Nesta semana, estive em duas formaturas da UFRGS: a das Letras e a das Artes, nesta ordem. Tive, portanto, a oportunidade de ouvir os discursos de ambas as áreas na mesma ordem em que eles aconteceram na minha vida. Há 18 anos, eu me formei em Letras pela PUC, E, há exatos 10 anos, eu me formei em Música pela UFRGS. Foram dois momentos bem diferentes. Na PUC, muito formalismo e seriedade. E eu, bem, nada feliz. Não queria seguir aquela profissão, mesmo gostando muito da área de Letras. Na UFRGS, o oposto. Feliz, feliz, feliz, terminando um curso do qual, por muitas vezes, quase fui obrigada a desistir. Atropelei meu discurso de agradecimento numa cerimônia mais informal e divertida.
Assistindo agora a estas colações de grau, já distante das salas de aula por algum tempo, pude observar um pouco as expectativas daqueles que estão ingressando no mercado de trabalho neste início de século. Mesmo não oferecendo propostas de altos rendimentos, a área de Letras ainda parece dar mais segurança nas ofertas de emprego. Portanto, os discursos giraram em torno de críticas ao próprio curso, a dificuldade pessoal de cada um para concluí-lo, a esperança de reconhecimento do diploma no mercado (especialmente para os que se formam em Tradução, como foi o meu caso) e agradecimento pelo apoio emocional e financeiro das famílias durante os estudos. Nas Artes, a busca de reconhecimento é mais profunda, pois o artista continua sendo visto como cigarra numa sociedade de laboriosas formigas. O agradecimento foi mais pelo apoio das famílias a suas escolhas profissionais.
Mas, de maneira geral, o que senti em ambas foi uma expectativa muito grande de fazer uma diferença no mundo. Não que este sentimento não estivesse presente antes. Claro que estava! Mas as turmas eram mais dispersas. O objetivo era mais imediato, prático: ter um emprego que pagasse as contas, no caso das Letras. No caso da Música, grande parte já tinha outro diploma (e outro emprego) e cursou a Universidade para realizar um sonho pessoal. Fico pensando se o motivo disto não foi o fato de que a maioria de nós tinha sido adolescente nos anos setenta e oitenta, períodos política e economicamente sofridos na história brasileira, de golpes militares a inflação galopante. Predominava a crítica amargurada ao país e uma tendência à falta de esperança, no estilo "não adianta fazer nada porque nada vai mudar".
Ah, agora muitos podem dizer - e mudou alguma coisa? Os problemas políticos e econômicos ainda existem aos montes, como sempre existiram . Mas algo mudou sim. Sem querer entrar demais neste assunto, acho que hoje as pessoas de vinte e poucos anos têm mais vontade de transformar o mundo, acreditam um pouquinho mais nas possibilidades de abrirem-se novos caminhos, de se descobrirem novas soluções. Também notei que, nos dois grupos, parecia haver mais união, mais integração. Não foram várias pessoas que ingressaram na vida profissional. Foram grupos de amigos, compartilhando os mesmos sonhos e esperanças. As escolhas profissionais vieram carregadas de muita determinação. Na Música, a situação parece ter-se invertido, pois a maioria já está atuando no mercado de trabalho como músico.
Isto é muito significativo pra mim. Acredito que as mudanças positivas que todos desejam podem realmente acontecer. Que o mundo não vai ser perfeito, isto sabemos. Sempre haverá descontentamento, sempre haverá sensação de incompletitude. Mas, sem isso, também não haveria motivação pra ir em frente, tudo já estaria pronto mesmo. Diante de tantas dificuldades que precisam ser atendidas, pode até parecer pouco. Não importa. Importa que seja real, importa que dê alguns frutos. E, como conheço de perto esses novos profissionais, muitos deles grandes amigos meus, tenho certeza de que esses frutos virão!
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
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