Fim de ano lá em casa era uma festa pra mim. Antes de mais nada, porque entrava em férias, podia acordar na hora que quisesse e passar o dia inteiro dentro de casa lendo, assistindo televisão, tocando piano ou escutando música. Mas não chegava a fazer nada disso. Não em dezembro. Isto porque, logo no início do mês, começávamos a preparar o Natal. Eu me dedicava a colocar nossas coisas em ordem, limpando e arrumando a bagunça do ano inteiro. Minha mãe tirava a decoração das caixas e ia espalhando pela casa. Depois me chamava pra ver. Eram anjos de cartolina, sininhos, guirlandas em papel vermelho brilhante feitas com pinha e bolas de Natal e outros tantos símbolos tradicionais. Ela adorava tudo isso.
Todos os dias tocava um disco de Natal. Sempre as mesmas músicas em versões as mais variadas possíveis. Piano, Big Bands, conjuntos musicais típicos da década de setenta, cantores solistas e coros. Ah, muitos coros! Minha mãe era apaixonada pelo coro. Todos os anos eu ouvia a mesma história dos concertos de Natal do coro da Igreja Metodista de Lins, onde minha mãe cantava contralto e atuava como organista. Sobre como as becas foram costuradas seguindo o modelo de beca de uma escola do Rio de Janeiro. Como um radialista muito conhecido se encantou com o coro quando se apresentaram pela primeira vez no auditório da Rádio. Como a regente, dona Déa Affini, havia melhorado o desempenho dos cantores e transformado o concerto num evento para toda a cidade. E como.... e por aí vai! Eu ficava ouvindo e imaginando a delícia que devia ser participar de algo assim!
Então chegava a vez da árvore. Quando éramos bem crianças, ela reservava um enfeite para cada um de nós pendurar. Mais tarde, assumi essa função, pois só eu continuava entusiasmada com a tarefa. Lá pelos meados do mês vinha a clássica pergunta: Flávia, você não vai montar a árvore de Natal? Lá ia eu colocar um disco como trilha sonora e passar a tarde me esforçando pra deixar bonita a velha árvore desmilingüida, comprada no meu primeiro aniversário.
Nos últimos anos, já em Porto Alegre, o interesse dela começara a diminuir. Mantinha o ritual todo como uma tradição, mas não parecia tão alegre como antes. Mesmo assim, a clássica pergunta se repetia infalivelmente, agora com um acréscimo: Flávia, quando é que vocês vão começar a ensaiar as músicas de Natal?, referindo-se ao meu coro.
No próximo dia 17 completam-se dois anos da sua morte. Passei a maior parte desse tempo meio anestesiada, como se ela estivesse apenas visitando minha avó em São Paulo e estivesse pra voltar a qualquer momento. Em 2006, as festas de fim de ano foram obscurecidas pelas idas e vindas da CTI onde meu pai ficou internado por quatro meses. Mas neste último Natal, a ausência dela foi enorme. Não decorei a casa, não montei a árvore, não ouvi nem cantei as canções de Natal que tanto gosto. Não tive vontade. Não veio sequer uma nostalgia da infância. Penso que foi por ser realmente a primeira vez que celebramos esta festa sem ela. Que nos próximos anos voltarei a sentir a mesma alegria de antigamente. Assim espero. Graças a tudo isso, o Natal sempre teve um grande significado pra mim. Não gostaria de perdê-lo.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
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