quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Motivo



Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
Se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno, a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.



"Motivo" é o título deste bem conhecido poema de Cecília Meireles que estava me rondando há vários dias. Mas como só me lembrava da primeira estrofe, fui procurar o resto. Achei interessante transcrever aqui porque parece sintetizar em poesia um pouco do que venho escrevendo nestes dias. Então, aí está.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Férias

Cá estou eu, ainda de férias, mas já me preparando pra volta da rotina normal (que, afinal de contas, depois que fiquei dona do meu tempo, não é nem normal nem rotina). A verdade é que, como muita gente, planejo trabalhar muito nas férias, fazendo, claro, tudo o que não tenho tempo de fazer nas míseras 24 horas do dia no resto do ano. Só que, como chego quase pedindo água ao término dos compromissos (que, desde fiquei dona do meu tempo, são os melhores que poderia desejar), antes de me dedicar a estes planos, passo por um período de "ressaca" ou de "desintoxicação" de atividades e fico, literalmente, uma ou duas semanas fazendo absolutamente nada (que, segundo o Sr. Spock, é realmente a única maneira lógica de descansar...). Quando o absolutamente nada começa a entediar, preciso absolutamente começar a fazer alguma coisa (mesmo contrariando o Spock) e é aí que meu planos começam a entrar em ação.

Neste ano, pintar minha casa foi, sem dúvida, a atividade mais esperada, mas também a mais cansativa (pintar o teto deixa qualquer um bem torto). Mas a vontade bateu forte, principalmente no Carnaval, e consegui terminar dois cômodos inteiros.

Infelizmente pra mim, há muitas outras atividades na lista de espera, tais como ler os livros que não resisto não comprar nas perigosas excursões a livrarias; ou então voltar à minha sessão de uma hora de yoga pela manhã (ou tarde, ou noite, ou quando eu me lembrar e sentir vontade de fazer); passear mais freqüentemente com meu cachorro (pois não resisto ao olhar pidão que ela me lança quando passo por ela); ver os filmes que perdi durante o(s) ano(s) inteiro(s) (dessa já até desisti!); estudar, estudar, estudar. Como? Estudar nas férias? Sim, tocar piano, porque se não toco, fico sem vontade de tocar e se toco, começo a querer tocar mais e mais e aí falta tempo durante o ano e penso então "nas férias vou tocar mais" (Ha!).

Claro que, como são férias, devo fazer tudo isso com tranqüilidade, sem stress, acúmulo, obrigação e, vai daí, não dá tempo de fazer tudo realmente. O ano chega e fico pensando "nas próximas férias termino isso..."

Bom, toda essa divagação sobre as férias começou justamente porque, na falta de ver gente, comecei a ver blogs, que são representações de gente, ou gente virtual, coisa que, quem me conhece, sabe que não sou fã, mas que tem seus aspectos interessantes.

Blogs são mesmo bons exemplos de relacionamento na era de Aquário, se me permitem essa consideração astrológica. Porque não poderiam ser expressões mais pessoais comunicadas de maneira tão impessoal, ou tecnológica, ou globalizada, adjetivos que se aplicam tão bem ao signo de Aquário (ao signo, não necessariamente aos aquarianos que, como todo ser humano, possuem todos os signos mais ou menos misturados, sendo por isso que, apesar de compartilharem traços em comum, todo indivíduo é único).

OK, fechando as aspas e voltando à questão dos relacionamentos. Quando eu era adolescente, a moda eram os pen-pals, correspondentes que, em sua maioria, nem chegávamos a conhecer pessoalmente. Durante uns três ou quatro anos cheguei a ter quase 30 pen-pals, a maior parte brasileiros, mas alguns americanos também. A gente escrevia sobre gostos em comum, que naquele tempo eram os programas de TV. Esperar pelo carteiro era a grande diversão!

Mas, bem antes disso ainda, lá na minha cidade do interior em Araçatuba, férias já eram um período sem gente. Isto porque nossa família não viajava mesmo. Meu pai, acho que nem tirava férias e, se tirava, ficava no escritório lendo o dia inteiro. Minha mãe reclamava "Luiz, a gente não vai pra lugar nenhum". Ele respondia "porque não vão ao clube?" O clube. Bom, meus amigos não iam ao clube durante as férias, porque eles passavam o ano inteiro no clube e nas férias, iam pra praia. Não que o clube ficasse vazio. Na verdade, se ficasse, eu até apreciaria. Mas, vejam bem, estou falando do período pré-filtro solar da História da humanidade. Era o tempo do óleo de bronzear. Vocês já viram como fica uma piscina depois que um monte de gente nadou usando óleo de bronzear? Isso mesmo, fica cheia de óleo, boiando na superfície que nem uma gigantesca panela de sopa. E, com a água sempre quente por causa da temperatura diária de quase 40 graus, eu acabava me sentindo uma cenoura cozida! "Não, não quero ir ao clube, pai."

Em vista disso, fui desenvolvendo uma intensa vida social comigo mesma. Basicamente leitura de livros, tocar piano, andar de bicicleta pelo nosso quarteirão, ouvir os pouquíssimos discos que eu tinha na época e brincar com minhas bonecas - duas Suzis, dois Betos, com os quais eu criava verdadeiras sagas familiares em alguns dias mais empolgados.

Voltando aos blogs. Agora que estou escrevendo o meu, baixou a curiosidade de ler outros. Aqui no blogspot tem aquela seta de "próximo blog". Só que, em geral, cai num blog do outro lado do mundo, a maioria com pouco ou nenhum interesse pra mim. Então dei-me conta do que já é óbvio para quem navega há mais tempo: através deles, tenho a oportunidade de saber do cotidiano e das idéias de pessoas que não conheço, ou que conheço de vista, ou que conheço mais ou menos e de quem nada saberia se não fosse pelo blog. Mesmo alguns amigos mais chegados, nessa vida corrida que todo mundo leva, que é que eles revelam pessoalmente? Pouco. Mas aí vão pra internet e escrevem sobre sua vida particular. Ou exercitam a atividade de escritor, o que dá no mesmo, pois todo escritor se revela pelo estilo, mesmo que sua história seja totalmente fictícia. Não deixa de ser parecido com os pen-pals, só que agora se escreve um texto para quantos quiserem ler. Não é mais tão direcionado, então o tema é mais livre e não se tem a obrigação de responder a este ou aquele comentário (apesar de haver espaço para isso também).

Minhas férias estão diferentes. Tenho mais uma atividade na minha lista, bastante social até, a de atualizar meu blog. E ler o de outros. Como eu disse na minha primeira postagem, quando eu escrevia, escrevia pra mim, ou no máximo pra um leitor definido. Este negócio de escrever pra sei lá quem que vai ler me deixou um tanto quanto presa no início, tanto em relação ao tema quanto à forma. Depois de vagar por blogs tão diversos, estou começando a me sentir mais à vontade para escrever como costumava escrever antigamente. É, acho que estou gostando!...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

I Ching - O Livro das Mutações

No hexagrama de número 16, chamado de Yu pelo chineses e traduzido em português como "Entusiasmo", há uma outra referência sobre chuva aliviando tensões. Mas traz também uma comparação com a música que gostaria de compartilhar. Transcrevo:
"Quando, ao início do verão, o trovão, a energia elétrica surgem novamente da terra e a primeira tempestade refresca a natureza, uma prolongada tensão se dissolve. Há alívio e alegria. A música também tem o poder de dissolver as tensões do coração e a violência das emoções sombrias. O entusiasmo do coração se manifesta espontaneamente no som do canto, na dança e no movimento rítmico do corpo. O efeito inspirador do som invisível que emociona os corações dos homens, unindo-os, é um enigma que perdura desde os tempos mais remotos. Governantes utilizavam essa tendência natural para a música; elevaram-na e deram-lhe ordem. A música era considerada como algo sério e sagrado, que purificava os sentimentos dos homens. Cabia a ela louvar os méritos dos heróis, construindo, assim, uma ponte para o invisível. Nos templos, os homens se aproximavam de Deus através da música e da pantomima (da qual o teatro se desenvolveu)."
Acho que há muitos motivos para se fazer música, todos igualmente válidos. Eu mesma não conseguiria me limitar a apenas um ou dois motivadores. Mas gosto muito de perceber a música da maneira acima descrita - como ponte para um mundo invisível, sagrado e como meio de unificar as emoções individuais. Entre tantos outros, este é um motivo que sempre vale a pena considerar!