sábado, 4 de dezembro de 2010

Um certo natal...



Num dia perto do natal de 78 ou 79, não me lembro bem, cheguei em casa e encontrei minha mãe com um sorrisão de orelha a orelha. Quando perguntei o que era, disse que havia comprado um disco do Elvis pra mim.

-Quêêê??!!! Minha mãe comprando Elvis pra mim?

E, já com medo que ela tivesse comprado algum disco repetido (não havia muitos disponíveis nas lojas), peguei o disco nas mãos e solucionou-se o mistério do sorriso: era um disco de Natal gravado pelo Elvis. Minha mãe ficava muito feliz quando encontrava um novo disco com músicas natalinas!

Eu não sabia que era comum nos EUA os artistas todos gravarem suas versões das canções de Natal. Foi uma surpresa e tanto!

Ligamos o toca-discos, sentamos na sala, ela na cadeira de balanço, eu no chão ou na poltrona marquesa do lado dela, não lembro bem. Ela, bem feliz por ter me presenteado com um disco de natal que eu certamente iria gostar! Eu, feliz por ganhado de presente da minha mãe um disco do Elvis que ELA iria gostar, sem dúvida!

Este será o quinto Natal sem ela por aqui...


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pois é....

Como já dizia minha mãe:

"O mundo é uma bola quadrada que gira parada em torno de nada."




Então, tá!...

domingo, 31 de outubro de 2010

Eleições


Todo povo tem o governo que merece. Esta não é uma afirmação cínica. É um fato científico. Nem tanto devido à força do inconsciente coletivo de uma sociedade, que projeta sobre seus representantes suas expectativas e temores (o que explicaria ditaduras e povos conquistados), mas pelo simples motivo de que os governantes saem de dentro da própria sociedade e carregam consigo seus defeitos e qualidades.

O cidadão comum "topa tudo por dinheiro"? O seu governante também, ora essa! Maridos e esposas juram honestidade e fidelidade nos seus relacionamentos mas traem e mentem na primeira oportunidade porque "todo mundo faz, só eu vou bancar o Zé Mané"? Pois então, seu governante também pode jurar honestidade e fidelidade (ao povo, aos princípios partidários, etc.) sem nenhuma intenção de cumprir esse juramento, porque ele também não é um Zé Mané!

Jamais me deixei seduzir por nenhuma ideologia política, talvez porque nunca acreditasse que qualquer uma delas pudesse resolver todos os problemas. Conseqüentemente, nunca me decepcionei com governos que prometeram, prometeram e não cumpriram. Nunca acreditei que cumprissem. Porque para tanto seria necessária uma liderança sólida e espiritualmente desenvolvida, convicta de seus (bons) princípios e que não se deixasse levar pelos "defeitinhos" humanos.

No geral, a raça humana não é muito diferente. O poder corrompe e enlouquece em toda parte. As diferenças de atitude é que dependem da cor local. No Brasil tudo acaba em pizza enquanto que no Japão podem cometer suicídio se forem descobertos fazendo falcatruas, mas a corrupção é a mesma. Por isso, quando Gandhi decidiu lutar pela independência da Índia sua primeira providência foi aumentar o número de horas em que praticava meditação. Ele sabia que tentariam corrompê-lo, pressionando-o para que desistisse de seus objetivos. O Mahatma precisava ser forte para não ser esmagado pelo Império Britânico - e por seu próprio povo, impaciente na espera por resultados rápidos, soluções miraculosas ou apenas fatigados, pois também sofreriam as mesmas pressões.

Ele foi bem sucedido porque:

- sabia exatamente o que queria fazer;
- sabia exatamente como o faria;
- cultivou e fortaleceu seu caráter e seus princípios;
- buscou o melhor para todos os lados;
- fez política honesta, baseada num desejo verdadeiro de melhorar as condições de vida de seu povo, sem buscar nada para si mesmo.

Quantos, hoje em dia, têm essa força?

Os valores de um povo serão os mesmos de seus líderes políticos. Nem todos temos a vocação para ser um Gandhi, embora fosse desejável. Nós, humanos, não somos perfeitos e não há quem não cometa erros. Faz parte da nossa experiência humana. Porém, antes do "cidadão indignado" sair reclamando e protestando, ele poderia dar uma olhada na sua própria "ficha" para ver se ela está mesmo "limpa". A única maneira de se construir um governo mais honesto e eficiente é cada um olhar para dentro de si mesmo e tentar viver sua vida com a maior retidão possível. Qualquer coisa menos que isso, dá nisso!




quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Genial!

Perambulando por blogs, acabei encontrando este vídeo de animação. A autora, Nina Paley, veicula a mensagem de que "todas as obras criativas são feitas a partir do que já foi feito antes". Alguns comentários do canal apontam que o vídeo não mostra necessariamente essa relação, visto que as obras apresentadas pertencem a culturas diferentes que não tinham conhecimento uma da outra; já outros tantos respondem que a história revela que a humanidade se desenvolve com certa "eqüilateralidade" e, portanto, dentro de um contexto "evolucionário", somos todos produtos do que veio anteriormente.

Seja como for, esta pequena animação é, naturalmente, uma obra de arte em si mesma e vale a pena dar uma olhada!



(vídeo postado no blog BizarroBlog/www.bizarrocomic.blogspot.com)

sábado, 16 de outubro de 2010

Minha Monark

Eu tive uma bicicleta Monark, modelo Monareta, quando era criança. Foi a única bicicleta que eu tive. Era azul-escura, ano 1974, eu acho, e dobrável. Ganhei quando já morava na casa da rua Tiradentes, pra onde nos mudamos no início de 1975. Não tenho nenhuma foto dela, o que me surpreendeu, considerando a importância que teve pra mim por tanto tempo.

A primeira fase foi a "Era Batman" e, naturalmente, minha Monark se transformava no Batmóvel todas as tardes, depois que chegava da escola. Brincávamos em frente de casa, eu e minha irmã e mais as vizinhas, que também estudavam conosco. Não ousávamos ir longe, mas pedalávamos a toda velocidade na nossa calçada e na delas, um caminho que, naquela hora, estava praticamente vazio de pedestres.

Num segundo momento, passou a ser meio de transporte. Foi na época em que começamos a brincar de Susi e Beto na casa da Esther e da Arlene. Elas moravam no fim (ou começo) da nossa rua, mas era longe pra ir a pé. Colocava minhas bonecas numa sacola amarela das Casas Pernambucanas e pendurava no guidão. Basicamente, passávamos o tempo todo brincando de boneca ou de teatrinho. Mas quando isso cansava, saíamos para brincar de mocinho e bandido, pedalando a mil nas ruas desertas, planas e asfaltadas do nosso bairro.

Aí, já por volta de 78, 79, as bonecas começaram a perder terreno. Me apaixonei por "Jornada nas Estrelas" e a Monark virou "Enterprise", com direito a exibir um "NCC -1701" feito de esparadrapo e que eu nunca mais tirei. Já nesse tempo também estava plenamente estabelecida como meio de transporte. Era divertido ir pra escola de bicicleta. Podia acordar um tantinho mais tarde e chegava em casa mais cedo na hora do almoço. Gostava de variar os caminhos e pedalar olhando as casas de Araçatuba - fora o fato de não precisar carregar a mochila nas costas... (o modelo tinha bagageiro). Ir pra casa das amigas também se tornou corriqueiro. Moravam perto, então ficava fácil dar uma chegadinha, ficar de prosa no portão, sem nem sequer descer (entre as mil e uma utilidades, a de servir de cadeira de rua) e voltar logo pro jantar. E tinha o pingue-pongue na igreja no fim de semana.

No início de 1981, quando soube que iríamos nos mudar, planejei passeios pela cidade, a maior parte deles, de bicicleta. Saíamos em caravana, cinco, seis bicicletas. Foi num deles que aconteceu o "acidente" na pracinha: distraídas, acabamos trombando e caindo no chão com tudo - gravadores, máquinas fotográficas e lanches. Memorável!...

Sua última missão foi me transportar pro outro lado da cidade, onde ia ter aulas de violão com o Fábio, um dos "violeiros" da turma de juvenis da igreja, no início de 1982. Num dos últimos dias, cheguei à casa dele e o encontrei muito sério, o noticiário do almoço ligado.

- "A Elis Regina morreu" - disse ele.
- "Quem?"
- "Elis Regina, não conhece?"
- "Não me lembro..."

Fiquei ali, assistindo o resto da notícia enquanto ele me olhava com aquela cara de "de que planeta você veio afinal, pra não saber quem é Elis"... (Depois, em casa, me lembrei dela, cantando "Alô, alô, marciano" no "Fantástico", se não me engano. Mas aí já era tarde pra desmanchar a sensação de ser ET...)

***

Insisti em trazer a bicicleta na mudança, apesar de já ser velha e pesada demais perto dos modelos mais novos. Aquela era a "minha" bicicleta, meu Batmóvel, minha Enterprise, não ia trocar por outra! Mas quando cheguei aqui, percebi que não seria mais a mesma coisa. Não tinha amigos pra visitar. As ruas não eram planas, as distâncias eram bem mais longas, pedalar cansava muito. Fazia um frio terrível durante metade do ano, não queria sair naquele vento gelado. Não sentia vontade de andar sem rumo. Pra escola, eu ia de ônibus mesmo, de onde era bem mais fácil apreciar a beleza das casas. Aposentei a Monark.

***

Durante os primeiros anos em Porto Alegre, sonhava freqüentemente que estava caminhando ou pedalando pelas ruas de Araçatuba. Ainda hoje, depois de tanto tempo, volta e meia sinto uma baita saudade destes passeios!...

***

Minha Monark era parecida com este modelo, mas...


... a cor era mais desse tom de azul aí em cima.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pantera em fuga

O blog Sound Mind postou um vídeo do compositor Stéphane Delplace tocando sua versão da Pantera cor-de-rosa. Trata-se de uma fuga composta sobre o famoso tema de Henry Mancini e que faz parte de sua obra "60 prelúdios e Fugas em 30 tonalidades". Aí está!


domingo, 8 de agosto de 2010

Religiões


Nasci de mãe protestante e pai ateu, cresci na igreja metodista e fui educada em escola católica. Portanto, desde cedo convivi com idéias conflitantes sobre religião e espiritualidade, o que me deu a oportunidade de aprender a respeitar diferentes pontos de vista sobre o assunto. Também me estimulou a questionar minhas próprias convicções, a colocá-las à prova, a ampliá-las.

A realidade violenta, caótica e aparentemente injusta em que somos jogados quando chegamos a este mundo faz a crença num Deus amoroso parecer uma noção no mínimo discutível para muita gente. Penso assim muitas vezes eu também. Mas não consigo extirpar a idéia da existência de uma outra realidade, invisível para nós, mas que ordene os acontecimentos e lhes dê sentido.

Acho que descrever o que acontece do outro lado é muito mais uma questão de fé e de escolha do que de constatação científica, que é o que a sociedade exige hoje em dia para corroborar um pensamento. A verdade é que não se pode provar a existência de Deus e não se pode provar a sua não existência.

Toda "evidência" de um mundo espiritual pode ser estilhaçada com argumentos científicos e isto poderia até ser suficiente para negar este mundo se não fosse por dois pontos que considero relevantes: o primeiro, o de que a própria ciência se contradiz a todo momento, conforme vai evoluindo; segundo, porque toda ciência bem como toda celeuma em torno das crenças religiosas não puderam impedir que os seres humanos continuassem precisando vivenciar sua espiritualidade de todas as maneiras possíveis.

Respeito quem tenha optado pelo ateísmo por não sentir necessidade de uma "explicação espiritual" do mundo. Mas não posso deixar de me surpreender (e de me entristecer um pouquinho) quando o ateísmo se deve a uma decepção com as igrejas e suas doutrinas porque, para mim, igreja e religião são duas coisas diferentes, embora irmanadas. A igreja é uma instituição humana, feita por pessoas que desejam perpetuar um credo. Religião é o conjunto de idéias acerca do mundo espiritual, que tenta oferecer um guia para uma conduta humana correta neste nosso mundo material. O fato de que as igrejas e seus representantes podem se corromper não deveria colocar em dúvida a verdade de seus ensinamentos, assim como um médico ruim não põe em dúvida a eficiência da medicina.

Há quem desista da fé, sentindo-se inseguro porque as religiões estão em constante mutação. Mas elas são apenas uma ponte para o mundo espiritual, tentando unir as duas realidades. Como toda ponte, podem precisar de reparos e restaurações de tempos em tempos; podem sofrer avarias causadas por aqueles que as utilizam ou podem ser totalmente substituídas caso se tornem obsoletas. Mas estas renovações não invalidam sua função nem determinam a não existência do "lado de lá" - que só poderemos conhecer realmente quando a travessia for concluída.

A evolução das religiões é uma conseqüência da evolução da alma humana. Os próprios conceitos de moral e civilização modernos foram introduzidos nas sociedades através das religiões. O que o ateísmo faz é aceitar estes conceitos e rejeitar sua origem - a realidade espiritual.

Tudo bem, entendo que às vezes seja difícil separar dogmas autoritários, oriundos do preconceito e do desejo humano de poder, dos ensinamentos verdadeiramente sábios, que nos elevam enquanto seres humanos. Sobretudo quando estamos totalmente imersos numa doutrina. É preciso ter discernimento, ponderação, cautela. É preciso verificar quais são seus frutos. É preciso aprender a reconhecer sua essência.

Acho que a crescente tendência ao ecumenismo, fruto da globalização, é mais uma etapa evolutiva da alma. E o objetivo final talvez nem seja se chegar a uma religião única, pois as pessoas têm necessidades diferentes, mas sim se chegar à coexistência harmoniosa de todas elas. Muitas pontes, cada uma com seu jeito particular de ser, partindo de pontos distintos, mas todas oferecendo um caminho de paz para quem busca um sentido maior para a vida.



sábado, 29 de maio de 2010

Entrevista com minha mana Fernanda


Minha irmã Fernanda esteve na TV Cultura participando do programa Login ao lado de Caio Fochetto e Bruno Tapajós, falando sobre séries de TV. Quem tiver interesse, o programa está disponível online aqui (blocos 2 e 3). Após o programa, foi realizado um batepapo via Internet, que também está disponível aqui.



quarta-feira, 5 de maio de 2010

Coro virtual

Passeando pela Internet me deparei com este vídeo do youtube com a "apresentação" de um coro virtual e quis conferir.

A princípio, a idéia de um coro virtual vai no contrafluxo do que eu considero interessante na música coral, ou seja, o fazer música com outras pessoas. Timbrar vozes, unificar pronúncias, equalizar naipes, a troca de informações entre cantores e regente, a comunicação do coro com o público e o retorno do público para o coro. Claro, isto vale para todo tipo de música feita por mais de um músico, naturalmente, mas minha experiência neste sentido tem vindo da música coral.

Então, como seria, um coro virtual? Um coro de solistas, literalmente. Cada cantor, sozinho, isolado acusticamente, gravando a sua parte seguindo uma regência previamente gravada, sem ouvir a harmonia resultante - apenas uma trilha guia ao piano. Um regente que rege sem ouvir o resultado final, pensando em sua partitura, mas não endereçando seu gesto para pessoas a sua frente. Elas ainda não estão ali. Ele não as vê. Não sabe como estão acompanhando, se ele precisa enfatizar mais esta ou aquela dinâmica.

No entanto, o resultado é agradável. Não é minha intenção comentar a peça ou a regência em si mesmas. Gostei de ambas sem considerá-las particularmente especiais. O que me chamou a atenção foi a novidade da proposta. Parece-me que um coro virtual é uma incursão da música coral na chamada música eletrônica. Não o samplear de vozes, que depois serão manipuladas eletronicamente para se criar uma obra musical, porque isto seria música eletrônica, mas não seria música coral, na minha opinião.

Há um coro. A sonoridade que ouvimos é vocal, mas também eletrônica. Tudo o que o coro e o regente precisam fazer ao vivo, aqui foi pré-gravado e resolvido eletronicamente. A intervenção da tecnologia no resultado das gravações profissionais de música não é nova, já se faz isto tanto na música popular como na erudita há décadas. Mas aqui, todo o processo foi virtual. Não sei se já estão fazendo este tipo de experiência há muito tempo; esta é a primeira que eu ouvi. É diferente. É um outro fazer musical. Com certeza, a resposta emocional do cantor - e do regente - é totalmente diversa. Mas é válido não? Música coral para o século XXI.


domingo, 25 de abril de 2010

Arvo Pärt e Configuration Dance Theatre

Entrei no blog do meu amigo Jerri e assisti ao vídeo de dança moderna que ele havia colocado em sua postagem. Lindíssima coreografia de Michael Shannon, ao som de Bach, para a companhia "Configuration Dance Theatre". Procurando por outras, achei esta aqui, também muito bonita, com música de Arvo Pärt, mas por um coreógrafo diferente, Joseph Cipolla.

Não conhecia este compositor, mas já tinha ouvido meus colegas músicos falarem dele com interesse. Gostei muito de suas composições - desta e de outras que pude encontrar no Youtube. O título desta peça é "Variations for the Healing of Arinushka". Não encontrei o nome do intérprete.

Então fica aí a dica, para compositor e companhia de dança!


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Máquinas do tempo

Não sei se um dia inventaremos máquinas para viajar no tempo. Ou se descobriremos a fórmula de nos transportarmos física e mentalmente para outros momentos vividos por nós ou perdidos na História. Ou talvez apenas a consciência possa se deslocar e visitar telepaticamente o que já passou - ou o que virá (?) ...

Sei apenas que, por enquanto, o melhor meio de revivermos o passado é através de nossos sentidos. Cheiros fazem isso. Um perfume pode trazer de volta lembranças de pessoas, lugares e eventos que estavam escondidos em nosso cérebro. A música também faz isso.

Em Araçatuba, eu não tinha rádio FM e não gostava da programação das rádios AM. Quando cheguei em POA, um dos primeiros hábitos que adquiri foi o de escutar as rádios FM e logo fiquei ligada na música pop dos anos oitenta. Até então, eu só ouvia os discos que eu tinha em casa e meus amigos se admiravam porque eu não conhecia "música popular". Minha tendência era ouvir pop estrangeiro - MPB mesmo eu só fui escutar mais tarde, depois que entrei no coral.

Naquele tempo, eu tinha ainda a mania das trilhas sonoras. Não as de verdade. Quer dizer, as de verdade também, eu ouvia muita trilha de filme. Mas refiro-me às trilhas "planejadas". É que eu gostava de ler livros ao som de um determinado disco. Ele ficava tocando e quando terminava, eu colocava de novo, e de novo, e de novo, pelo tempo em que ficasse lendo. Num instante, claro, estavam associados em minha mente e ouvir a música era lembrar da história e vice-versa.

Então, como eu ouvia os LPs à exaustão e, quando não eram os discos, era o rádio, a música daquele tempo ficou em mim. E hoje, ouvir qualquer música daquela época, qualquer uma mesmo, mesmo as que eu não gostava muito, dá aquele efeito hipnótico de estar lá de novo. Parece que posso até sentir o cheiro das coisas daquele tempo e, se me concentrar bem, posso tentar acreditar que ainda estou lá.

E não é que quando ainda estava lá, eu quisesse realmente estar, porque toda adolescente - e eu não fui exceção - está sempre preocupada com o futuro, em quando as coisas que ela quer vão acontecer e como vão acontecer. E naquele tempo eu sonhava muito com meu futuro, com tudo que eu queria pra mim, e eram sonhos bem de sonho, quer dizer, nada perfeitamente claro, tudo meio nebuloso, mais sugerido, planos feitos mais de sensações e emoções do que de fatos.

Mas hoje, agora, eu não posso negar que penso muito em estar lá de novo. Não pra mudar tudo, pois então eu não seria mais eu hoje - e gosto mais de mim hoje do que em qualquer momento anterior da minha vida. Talvez como a Peggy Sue, do filme Peggy Sue, eu apenas voltasse lá outra vez, chorasse muito ao lembrar do que já tive e não tenho mais, mas acabasse fazendo as mesmas coisas de novo, só que um pouquinho diferente. E esse pouquinho diferente faria toda a diferença. Ou não.

Não sei. Mas penso muito nisso.