terça-feira, 22 de março de 2011

Memórias de uma fã


Em 1983, aos 16 anos, estava completamente apaixonada por Jornada nas Estrelas e pelo capitão Kirk. Naqueles tempos pré-Internet, ser nerd não era nada fácil! Uma foto 3x4 em preto e branco do seu artista favorito podia ser um tesouro difícil de encontrar. Grupos de fãs se formavam com o objetivo às vezes único de trocar fotos e reportagens.

Pouco tempo depois de nos mudarmos para Porto Alegre, eu e a Fer, minha irmã, já havíamos descoberto quais eram as melhores bancas de revistas, as que tinham revistas estrangeiras com as preciosas fotos que colecionávamos. Mas foi na revista Cláudia mesmo, na coluna de biografias de artistas, que encontramos a mais preciosa de todas as informações daquele tempo: o endereço do fã-clube do William Shatner! E, claro, logo nos mobilizamos pra escrever pra ele.

As perguntas que selecionamos com cuidado foram: quais a cor e música preferidas, quais os hobbies, próximos trabalhos, esse tipo de informação extremamente importante e pertinente que todo fã precisa desesperadamente saber sobre seu ídolo. Ao menos em 1983.

Meu pai ajudou a traduzir para o inglês. Escrevemos em papel de seda, pra não pesar no envelope. Mandamos. E cruzamos os dedos pra receber a resposta. E recebemos!!! Um dia, ao abrirmos a caixa do correio, encontramos um enorme envelope com carimbo dos EUA. Torturamos os vizinhos com nossos gritos de alegria. Mas o melhor ainda estava por vir...

O fã-clube respondeu todas as perguntas, enviou foto autografada, currículo com todos os filmes e a lista de episódios de Jornada com as datas originais de exibição na década de 60 que eu havia pedido. Enviou também material pra ficarmos sócias do fã-clube e recebermos uma newsletter mensal com todas as informações atualizadas sobre o Bill e seu trabalho atual, que era a série policial T. J. Hooker. O preço, em dólares, era até razoável, e minha mãe, após verificar a cotação da moeda americana no jornal, concordou em pagar pra gente. Isto estava começando a ficar incrível!

Como mandar o pagamento? Pelo banco, claro, de que outro jeito poderíamos adquirir dólares? Minha mãe foi se informar e voltou com a péssima notícia:

-"Devido à atual crise financeira do Brasil, o banco não estava autorizando o envio de dólares para o exterior, a menos que houvesse parentes estudando por lá."

O êxtase num dia. A mais profunda depressão no dia seguinte! Arrasada, escrevi uma carta explicando tudo às representantes do William Shatner Fellowship, agradecendo a gentileza e o convite e perguntando se poderíamos escrever de vez em quando pra termos notícias do Bill. Na realidade, nem esperava resposta, era só uma formalidade, pra retribuir a gentileza.

Foi quando a surpresa nos pegou tão em cheio que, eu juro, fiquei pulando durante uns três dias sem acreditar. Recebemos outra carta do Fellowship, com novas fotos, uma carterinha de sócio em meu nome e uma newsletter. Havia também algumas cartas com envelope brasileiro que caíram no chão quando abrimos o pacote. E uma carta explicando tudo. Resumidamente, a proposta foi a seguinte:

- "Recebemos muitas cartas de fãs brasileiros escritas em português. Muitos fãs de L. A. estão dispostos a enviar cópias da newsletter para os fãs brasileiros que quiserem receber. Assim, enquanto as finanças do Brasil continuarem como estão, eles poderão se associar sem mandar dinheiro. Enviaremos uma carta a eles com a proposta. Se concordarem, seguiremos com o plano. Bill concorda (Bill CONCORDA!!!!). Estamos anexando duas cartas pra você traduzir."





Então, basicamente, tornei-me a TRADUTORA E REPRESENTANTE OFICIAL DO WILLIAM SHATNER NO BRASIL !!!!! Ao menos, durante aquela década... Foi muito mais incrível do que eu poderia sonhar!




Lá se vão 20 e tantos anos, muita coisa mudou no país e na minha vida. São lembranças de um tempo que eu (lá vem o clichê...) não sabia que era bom. Por que pensei nisto hoje? Porque hoje meu primeiro patrão e grande paixão de adolescência completou 80 anos!

Feliz aniversário, Bill!!


(vídeo postado no blog Nova Temporada/http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/)

sábado, 5 de março de 2011

Arte em areia



No Youtube está com data de 2009, mas foi hoje que meu tio Raul mandou o link pro meu pai, que me mostrou dizendo ser "impressionante". Tive que concordar!

Kseniya Simonova participou do concurso "Ukraine's Got Talent", contando, através de desenhos em areia, a história da invasão nazista em seu país e a separação de sua família. A beleza das imagens, e também sua performance, são muito envolventes. Vale a pena conferir!



(fonte da imagem: www.transitoriamente.wordpress.com)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Palavra de Scliar


O blog Todoprosa indicou o link para a L&PM Web TV, contendo uma entrevista em vídeo com o escritor Moacyr Scliar, que faleceu neste último dia 27, em Porto Alegre. Há uma versão compactada de 5 minutos e uma outra, completa, com 42 minutos. Filmada há um ano atrás, Scliar conta um pouco de sua vida e sua carreira, de maneira simpática e descontraída. Fica aqui como homenagem a uma personalidade que deixará saudades.



(fonte imagem: Google Images)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

maggie and milly and molly and may



maggie and milly and molly and may
went down to the beach to (play one day)

and maggie discovered a shell that sang
so sweetly she couldn't remember her troubles, and

milly befriended a stranded star
whose rays five languid fingers were;

and molly was chased by a horrible thing
which raced sideways while blowing bubbles: and

may came home with a smooth round stone
as small as a world and as large as alone.

For whatever we lose (like a you or a me)
it's always ourselves we find in the sea

e. e. cummings


Li pela primeira vez esse poema numa aula de TTT (Teoria e Técnica da Tradução) na PUC, há uns 20 e tantos anos. Entre os vários poemas usados para exemplificar diferenças entre traduções técnicas e literárias, este foi o único que não esqueci. Na verdade, lembrei-me dele em diversas ocasiões, sempre por motivos diferentes. Não traduzimos em aula. Não sou poeta, nem tenho o hábito de ler poesia mas, desta vez, senti vontade de experimentar fazer minha própria versão:

maggie e milly e molly e may
foram à praia um dia (para brincar)

e maggie achou uma concha cantando
tão docemente que esqueceu seus problemas, e

milly ajudou uma estrela encalhada
cujos raios eram cinco lânguidos dedos;

e molly fugiu de uma coisa horrível
que corria de lado bafejando bolhas: e

may carregou uma pedra lisa e redonda
tão pequena quanto o mundo, tão grande quanto só.

O que quer que percamos (como um eu ou você)
é sempre nós mesmos que encontramos no mar.

É um belo poema! Pude verificar que é também bastante conhecido e toca as pessoas de muitas maneiras. Para alguns, ele fala do mundo infantil; para outros, o tema seria o universo feminino. Mas, por causa de seu último verso, a interpretação mais comum é psicológica: cada pessoa encontra no mundo aquilo que tem dentro de si mesmo. Ou, cada pessoa escolhe prestar atenção àquilo que mais reflete seus próprios pensamentos. Isto está em harmonia tanto com a psicologia, que diz que projetamos no mundo a nossa personalidade, quanto com o budismo, que diz que criamos o mundo através dos nossos pensamentos.

Mas há também quem diga que o poema fala de diferentes momentos de uma mesma pessoa. E por que não? Não há limite para o número de leituras que podemos fazer dele. Poderia ser lido como as etapas de um processo de individuação:

"A arte nos enleva e nos faz esquecer os problemas. Fortalecidos e sensibilizados, enxergamos o sofrimento alheio e queremos ajudar. O contato com a dor nos deixa mais vulneráveis aos nossos temores e fugimos. Mas é somente após conhecermos a nossa sombra que podemos finalmente ser inteiros."

Muitas pessoas associaram a pedra de May com um símbolo zen (ou do Self). No início somos a concha, com sua superfície irregular e relativa fragilidade; ela se fragiliza totalmente na fase da estrela-do-mar que está encalhada. O caranguejo já desenvolveu uma couraça (mas é como a couraça da maioria de nós, dura somente por fora). A pedra, redonda e lisa é nosso ser já lapidado, fortalecido, inquebrantável.

Bom, é claro que na tradução ficaram de fora todas as maravilhosas rimas internas e aliterações, que não ousei tentar reproduzir. Muitas eu nem havia percebido antes, como troubles/bubbles, chased/sideways e a aproximação fonética de star/were. E notei que o verso da May traz consigo a sílaba OM (home/stone/alone), mais uma sugestão do zen!

O verso "as small as a world and as large as alone" é, de longe, o mais difícil de traduzir e o mais belo! Fiquei tentada a escrever "tão pequeno quanto um mundo, grande e só como uma onda", para não perder o OM, mas não me senti segura para acrescentar uma palavra inexistente no original. Também remete ao zen. "O mundo é pequeno porque cabe dentro de nós (ou porque não é mais importante que nosso auto-conhecimento); o indivíduo está só porque não precisa de outro que o complete, já se completou, e é grande porque, completo, contém um mundo."


Naturalmente, esta é minha leitura hoje. Voltarei daqui alguns anos.


***


Eis no youtube algumas obras inspiradas no poema:

Um vídeo de animação:


Uma obra para coro:


Uma canção para soprano e piano:



Um trio de música folk:



(fonte texto: E. E. Cummings Selected Poems; with introduction and commentary by Richard S. Kennedy. Liveright, New York. 1994. p. 6)
(fonte imagem:"harbor at pornic", by e.e. cummings/www.eecummingsart.com)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mulher-Maravilha

A notícia mais divertida das últimas semanas!!



Me lembrou estas outras velhinhas aqui:




Só que agora, do lado da lei...


(fonte imagem: www.toy-a-day.blogspot.com)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Não se apresse em acreditar...



"Não se apresse em acreditar em nada, mesmo se estiver escrito nas escrituras sagradas. Não se apresse em acreditar em nada só porque foi um professor famoso que disse. Não acredite em nada apenas porque a maioria concordou que é a verdade. Não acredite em mim. Você deveria testar qualquer coisa que as pessoas dizem através de sua própria experiência."

(Siddartha Gautama, o Buddha)


Quando abri meu primeiro e-mail, estava bem entusiasmada com a possibilidade de me comunicar com os amigos e familiares de maneira rápida, eficiente e barata. Quase em seguida, embarquei na onda de trocar mensagens positivas, de amizade e também nas mensagens de caráter social do tipo "Denuncie! Olha o que estão fazendo por aí..", etc.

Ao enviar um e-mail com este tipo de conteúdo para meu irmão, fiquei surpresa com o fato de que ele não repassou para ninguém! Parecia importante, alertar as pessoas. Ele simplesmente respondeu que:

1. Este tipo de mensagem poderia conter spywares (isto foi há mais de dez anos atrás, e esta história de spyware era novidade pra mim);
2. Provavelmente era o que os americanos chamam de hoax, uma pegadinha.


Pois é, me convenceu. Desde então, evito repassar mensagens, por mais bonitas ou importantes que me pareçam. Perdeu até a graça. Mas às vezes ainda me arrisco e acabo agindo de acordo com minha consciência, torcendo pra ter feito a coisa certa.

A grande vantagem da Internet é que ela democratiza os meios de comunicação. Todos podem mandar suas mensagens sem passar pelo filtro das empresas (rádios, jornais, emissoras de TV).

A grande desvantagem da Internet é que ela democratiza os meios de comunicação. Todos podem mandar suas mensagens sem passar pelo filtro das empresas (rádios, jornais, emissoras de TV).

A confiabilidade do que você lê e ouve nela é bem menor do que nos meios oficiais. Mas a comunicação na Internet apenas reflete a maneira como os seres humanos se comunicam. E muitos seres humanos parecem possuir uma tendência a não serem completamente honestos, pelo menos não o tempo todo.

Não por acaso Buda e outros grandes mestres nos ensinaram a não acreditar imediatamente em tudo o que se ouve, lê ou vê. Preciso deste conselho. Então repasso. Mas não se apressem em aceitá-lo, afinal, eu também posso estar enganada, não?





(fonte da citação: www.pensandozen.blogspot.com)
(fonte da imagem: Google images/www.andre.aquino12.blog.uol.com.br)


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Obsolescência programada

Estamos vivendo um período de maior consciência ecológica e os resíduos do nosso estilo de vida estão se acumulando por todo o planeta, o qual, sendo limitado, já não pode mais comportar o crescimento industrial infinito. Começam a surgir, por toda parte, pessoas dispostas a dar um basta nesta filosofia suicida de produção.

Como podemos ficar contentes com o aumento da produção e vendas de carros quando o trânsito está cada vez mais caótico? Como podemos nos alegrar com o aumento de vendas de produtos quando ainda não conseguimos reciclar o suficiente para evitar o acúmulo de lixo nos rios, mares e arredores das cidades?

Este é o momento de repensar nossos valores e modo de vida. Não dá para se continuar planejando o mundo com base apenas no lucros. A meta principal deve ser cuidar das necessidades humanas de maneira sustentável e manter o meio ambiente saudável para todos os seres que habitam a Terra.







domingo, 16 de janeiro de 2011

Os rios da Amazônia

Não entendo de ecologia, mudanças climáticas etc. e tal, mas sei que não vivemos num mundo compartimentado e, quando há mudanças consideráveis no clima de uma região, estas mudanças por certo afetarão muitos lugares no planeta, senão todo ele. Isto é o que nos dizem os estudiosos do assunto. Se sofremos com enchentes ou estiagens com conseqüências cada vez mais graves, pelo que nos dizem os noticiários, seria no mínimo de se perguntar o quanto disto tudo é "causa natural" e o quanto é conseqüência das mudanças radicais que nós, seres humanos, provocamos em larga escala na natureza. Destruir o habitat natural de pessoas e animais que dependem dos rios da Amazônia para sobreviver já seria terrível o suficiente para que este projeto de barragem sequer fosse elaborado. Mas estamos todos no mesmo planeta. Eventualmente, nossas vidas também serão afetadas. Espero que as pessoas que estão no poder possam começar entender isso! Quando nossos atos prejudicam alguém, todos saem perdendo, incluindo nós mesmos! O oposto também é verdade. Planejar e agir para o bem comum é a única coisa lógica a fazer! E a única coisa sã. O resto, é pura loucura.



(link do vídeo postado no blog Verde Vida Clorofila - Veja matéria completa em http://www.verdevidaclorofila.com/meio-ambiente-desastre-ecologico)


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Vegetariana: ser ou não ser?


Não sou vegetariana, mas também não faço questão de comer carne. Se fosse escolher, diria sem dúvida que a carne que prefiro é a de frango. De todos os pratos, meu favorito é o frango ensopado ao molho de ervilhas e batatas que minha mãe fazia. Ela chamava de quebra-galho, prato de improviso quando estava sem tempo de pensar em algo mais "elaborado". Eu adorava! E a minha seqüência de prediletos vêm na lista da carne de frango como, por exemplo, canja, que nada mais é do que a versão "caldosa" do frango ensopado com arroz; ou o risoto de frango, outro parente. Strogonoff de frango, que não me parecia interessante, mas aceitei provar por causa de seu ingrediente principal e acabei gostando bastante. E a divina, maravilhosa macarronada ao molho de frango caipira com colorau feita pela Dona Nêga, esposa do capataz da fazenda de um primo do meu pai, em Guaraçaí, sempre que íamos lá. Havia também a torta de frango, os salgadinhos de festa, como coxinha, empada ou risólis de frango, etc..

Quando eu era criança, não ouvia ninguém falar de vegetarianismo. Minha professora de yoga na faculdade comentou conosco que não devíamos comer animais que estivessem próximos a nós na linha evolutiva. Ou seja, deveríamos optar por aves e peixes e esquecer a carne dos mamíferos. Por mim, tudo bem, pensei, porque nunca fiz questão de carne vermelha. Mas, ah, eu gostava de carne suína. Um lombinho, bistequinha de porco ou pernil assados com limão, que peninha, deixar de comer. E a feijoada? E a sopa de lentilha sem a lingüicinha calabresa? E o presunto? É ficava difícil...

Sempre disse que, se tivesse que matar o animal pra comer, então não haveria problema. Virava vegetariana, na hora! Mas como nunca foi necessário, continuava com a carne. Até agora.

É, até agora porque, sem desistir totalmente, resolvi diminuir o consumo. Se quando criança comíamos carne todos os dias (minha mãe achava que, sem carne, não havia refeição), hoje podem se passar semanas sem que eu prove um pedacinho sequer. E não estou sentindo tanta falta assim. Não acho que seja porque estou me habituando. Ainda sonho com aqueles pratos todos. Mas a carne de hoje já não tem mais o mesmo sabor de antigamente. Já tem uns quantos anos que venho notando isso. Compro a carne, preparo, boto mil temperos e o gostinho bom fica por conta ... dos temperos! A carne mais parece um bagaço de carne, com gosto de quase nada! Deve ser por causa do processamento atual. Pra durar mais, pra vender mais pra lugares mais distantes, sei lá, devem preparar a carne de um jeito que perde toda a graça! Ou então são os malditos hormônios que dão pros bichos ficarem maiores ou sei lá o quê! E que a gente come por tabela, não é mesmo? (o que faz com que a carne seja mais nociva à nossa saúde do que deveria ser).

Pois é, a ironia das coisas. Fazem tudo isso pra vender mais e a gente (eu, pelo menos) fica cada vez mais com menos vontade de consumir! E assim, sem querer querendo, vou ficando com um cardápio mais vegetariano. Não é que Deus escreve certo por linhas tortas?



(fonte da imagem: www.fogaodomineiro.blogspot.com)