Esta semana bati a sola do pé em algum lugar e fiquei mancando por dois dias. Se tivesse sido na perna ou no braço, nem lembraria, mas sendo no pé, doía a cada passo. O desconforto dos pés é desconforto do corpo inteiro.
Lembro-me das minhas botas ortopédicas. Eram pesadas, quentes e desconfortáveis e, por causa do bico torto para virar meus pés para fora, tornavam-me alvo de deboche dos colegas que não perdiam a oportunidade de dizer que eu tinha calçado os pés trocados. Bem, eles se divertiam, eu não. Na volta da escola, sob o sol do meio-dia, meus pés transpiravam e começavam a queimar dentro delas e, para me distrair até o fim do caminho, ficava imaginando que, se eu fosse a Jeannie ou a Feiticeira, piscaria e estaria em casa, ou se fosse o capitão Kirk, pediria que o Scott me teleportasse direto pro meu quarto.
Ao chegar em casa, literalmente as arrancava e as jogava longe e passava o resto do dia descalça, não por rebeldia, mas porque não tinha outros sapatos. Aprendi a andar descalça sobre pedrinhas, capim e asfalto quente. Todo dia ia comprar sorvete na padaria Roma e saltitava pra não queimar os pés até encontrar a primeira sombra.
Por volta dos onze ou doze anos, declarei minha independência: quero sapatos! Foi logo depois disso que surgiram as Melissas e me apaixonei por aquela sandália de plástico transparente e macio - parecia que não estava usando sapato nenhum! E, porque se usava com meias também, eram sapato pra inverno e verão. Não tirava mais dos pés!
Um problema que acabou não sendo corrigido foi o pé chato - a ausência do arco do pé. Como me sentia responsável por não terminar o tratamento, tentava compensar jogando o peso do corpo para fora, para não desmontar o arco ao caminhar. Fiz isso até os 31 anos, quando comentei sobre o fato com o professor de Técnica de Alexander e ele me sugeriu que eu não o fizesse. Melhor seria comprar uma palmilha ortopédica e pisar sem nenhum músculo tensionado, disse ele.
Experimentei caminhar sem prender o pé. Uau!!! Que alívio! Meu corpo ganhou novo alinhamento: a coluna se encaixou sozinha, os ombros relaxaram e o pescoço ficou solto. A postura ficou bonita e a respiração começou a fluir com facilidade. Até aquela dorzinha da lombar desapareceu. Pensar que passei a vida inteira andando dura por causa de um arco que deveria estar ali mas não estava! Mas como a gente não perde um hábito da noite para o dia, preciso manter minha atenção aos meus movimentos na hora de caminhar e me lembrar constantemente de soltar os pés e o calcanhar. Se estou sob tensão, a tendência é voltar ao movimento mais antigo, mas pelo menos agora sei que eu POSSO caminhar com mais leveza!
Pois é, uma boa base é o começo de tudo!
quinta-feira, 10 de abril de 2008
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