quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Motivo



Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
Se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno, a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.



"Motivo" é o título deste bem conhecido poema de Cecília Meireles que estava me rondando há vários dias. Mas como só me lembrava da primeira estrofe, fui procurar o resto. Achei interessante transcrever aqui porque parece sintetizar em poesia um pouco do que venho escrevendo nestes dias. Então, aí está.

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