A primeira fase foi a "Era Batman" e, naturalmente, minha Monark se transformava no Batmóvel todas as tardes, depois que chegava da escola. Brincávamos em frente de casa, eu e minha irmã e mais as vizinhas, que também estudavam conosco. Não ousávamos ir longe, mas pedalávamos a toda velocidade na nossa calçada e na delas, um caminho que, naquela hora, estava praticamente vazio de pedestres.
Num segundo momento, passou a ser meio de transporte. Foi na época em que começamos a brincar de Susi e Beto na casa da Esther e da Arlene. Elas moravam no fim (ou começo) da nossa rua, mas era longe pra ir a pé. Colocava minhas bonecas numa sacola amarela das Casas Pernambucanas e pendurava no guidão. Basicamente, passávamos o tempo todo brincando de boneca ou de teatrinho. Mas quando isso cansava, saíamos para brincar de mocinho e bandido, pedalando a mil nas ruas desertas, planas e asfaltadas do nosso bairro.
Aí, já por volta de 78, 79, as bonecas começaram a perder terreno. Me apaixonei por "Jornada nas Estrelas" e a Monark virou "Enterprise", com direito a exibir um "NCC -1701" feito de esparadrapo e que eu nunca mais tirei. Já nesse tempo também estava plenamente estabelecida como meio de transporte. Era divertido ir pra escola de bicicleta. Podia acordar um tantinho mais tarde e chegava em casa mais cedo na hora do almoço. Gostava de variar os caminhos e pedalar olhando as casas de Araçatuba - fora o fato de não precisar carregar a mochila nas costas... (o modelo tinha bagageiro). Ir pra casa das amigas também se tornou corriqueiro. Moravam perto, então ficava fácil dar uma chegadinha, ficar de prosa no portão, sem nem sequer descer (entre as mil e uma utilidades, a de servir de cadeira de rua) e voltar logo pro jantar. E tinha o pingue-pongue na igreja no fim de semana.
No início de 1981, quando soube que iríamos nos mudar, planejei passeios pela cidade, a maior parte deles, de bicicleta. Saíamos em caravana, cinco, seis bicicletas. Foi num deles que aconteceu o "acidente" na pracinha: distraídas, acabamos trombando e caindo no chão com tudo - gravadores, máquinas fotográficas e lanches. Memorável!...
Sua última missão foi me transportar pro outro lado da cidade, onde ia ter aulas de violão com o Fábio, um dos "violeiros" da turma de juvenis da igreja, no início de 1982. Num dos últimos dias, cheguei à casa dele e o encontrei muito sério, o noticiário do almoço ligado.
- "A Elis Regina morreu" - disse ele.
- "Quem?"
- "Elis Regina, não conhece?"
- "Não me lembro..."
Fiquei ali, assistindo o resto da notícia enquanto ele me olhava com aquela cara de "de que planeta você veio afinal, pra não saber quem é Elis"... (Depois, em casa, me lembrei dela, cantando "Alô, alô, marciano" no "Fantástico", se não me engano. Mas aí já era tarde pra desmanchar a sensação de ser ET...)
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Insisti em trazer a bicicleta na mudança, apesar de já ser velha e pesada demais perto dos modelos mais novos. Aquela era a "minha" bicicleta, meu Batmóvel, minha Enterprise, não ia trocar por outra! Mas quando cheguei aqui, percebi que não seria mais a mesma coisa. Não tinha amigos pra visitar. As ruas não eram planas, as distâncias eram bem mais longas, pedalar cansava muito. Fazia um frio terrível durante metade do ano, não queria sair naquele vento gelado. Não sentia vontade de andar sem rumo. Pra escola, eu ia de ônibus mesmo, de onde era bem mais fácil apreciar a beleza das casas. Aposentei a Monark.
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Durante os primeiros anos em Porto Alegre, sonhava freqüentemente que estava caminhando ou pedalando pelas ruas de Araçatuba. Ainda hoje, depois de tanto tempo, volta e meia sinto uma baita saudade destes passeios!...
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Minha Monark era parecida com este modelo, mas...
... a cor era mais desse tom de azul aí em cima.
Um comentário:
Olá Flavia!
Estava procurando fotos antigas de Araçatuba e encontrei seu blog. Gostei muito seu texto sobre a Monark Monareta. Eu também tive uma e como você foi a minha primeira bicicleta mas nao a ultima. Mas felizmente eu tenho uma foto dela.
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