sábado, 26 de abril de 2008

Mafalda



Tira emprestada do blog da Cah Morandi

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Different

Eu assisti "Pufnstuf - A Flauta Encantada" no cinema, na sessão infantil de domingo do Cine Pedutti. Depois disso, assistimos várias vezes, eu e minha irmã, sempre que passava na TV. O filme era dublado, as músicas não. Eu não entendia nada das letras, mas adorava a trilha sonora. Mais tarde, já em Porto Alegre, pudemos revê-lo, pois fazia parte da programação da TV2 Guaíba. Meu inglês já dava pra entender alguma coisa e essa canção me parecia ser algo como "a canção do patinho feio", pois falava em ser diferente, ser sozinho, mas que depois você encontraria outros como você. Parecia lógico, em se tratando de um filme para crianças.

Acordei nesta segunda com a música na cabeça e fui atrás dela no YouTube. Dei-me conta de que meu inglês me permitiu entender toda a letra, pela primeira vez realmente! Ainda acho que tem muito de patinho feio nela. Contudo, tendo sido composta no auge dos movimentos de contracultura nascidos nos anos 60, um pouco daquelas (muitas) reivindicações de cunho social com certeza estavam passando na cabeça do letrista. É possível ouvir os ecos de "lute por suas idéias, mesmo que seja difícil" ou "juntos somos muito mais que dois". Quase todo filme dos anos 60 e início de 70 menciona com maior ou menor ênfase o movimento hippie e este filme não é exceção. Mas como (sabiamente) a letra da canção não se prende a nada de específico, não perdeu sua atualidade, sua universalidade e pode ser entendida de muitas maneiras.

Tanto que, ouvindo hoje, eu pensei mesmo foi na busca pelo auto-conhecimento, no nosso amadurecimento emocional e social. Porque o processo de se tornar um indivíduo único, completo - que Jung chamou de individuação - é um processo interno, portanto, solitário; além disso, requer que sejamos honestos com relação aos nossos defeitos, que saibamos reconhecer nossas qualidades, e também que possamos abrir mão de tudo que está obsoleto em nossa vida - idéias, atitudes, etc. - e isto é mesmo muito doloroso e difícil! Mas é isso que nos torna especiais, é nisto que está nossa beleza e por isto vale a pena! E, se prestarmos atenção, veremos que não estamos sozinhos, pois há muita gente empenhada nessa mesma busca, de construir sua auto-estima, de descobrir o porquê de estarmos aqui neste planeta e qual é o nosso papel - e de ser feliz! (E, afinal, não era esta mesmo a história do patinho feio?)

Mas vou deixar de blábláblá e colocar o texto (o que entendi dele) e deixar vocês curtirem a voz da Mama Cass.


When I was smaller and people were taller,
I realized that I was different
I had a power that set me apart!
I learned to take it, to use it, to make it
It's not so bad to be different
To do your own thing and do it with heart

Different is hard, different is lonely
Different is trouble for you only
Different is heartache, different is pain
But I'd rather be different than be the same!

At first I wondered what hecks I was under
What did I do to be so different?
Then I discovered some others like me
Wonder no longer, together we're stronger
It's not so bad to be different
Be true to yourself, that's what you must be!

Quando era pequena e as pessoas eram grandes
Percebi que era diferente
Eu tinha um poder que me separava dos outros
Aprendi a aceitá-lo e a usá-lo com sucesso
Não é tão ruim ser diferente,
Fazer as minhas coisas e fazê-las de coração

Ser diferente é difícil, ser diferente é solitário,
Ser diferente é ter problemas só nossos
Ser diferente é triste, ser diferente é doloroso
Mas eu prefiro ser diferente a ser igual a todo mundo!

No começo me perguntei que maldição seria essa
O que foi que eu fiz pra ser tão diferente?
Então descobri outros como eu
Não preciso mais perguntar, juntos somos mais fortes
Não é tão ruim ser diferente
Seja verdadeiro consigo mesmo, é assim que você tem que ser





P.S. Norman Gimbel, o letrista, formou parceria com Tom Jobim, Marcos Valle, Baden Powell, e foi o autor das versões para o inglês de "Garota de Ipanema" "Insensatez", "Meditação", "Água de Beber", entre outras.

sábado, 12 de abril de 2008

Se

Havia um livrinho de poesias que eu gostava de abrir e ler aleatoriamente quando criança. Lembro-me que gostava deste poema. É também bastante conhecido e citado como inspiração (e até mesmo parodiado). Não gosto muito do verso final - soa datado demais pra mim.

SE

Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!


Rudyard Kipling
Tradução de Guilherme de Almeida



IF
If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you
But make allowance for their doubting too,
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:

If you can dream--and not make dreams your master,
If you can think--and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
And risk it all on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on!"

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings--nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much,
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And--which is more--you'll be a Man, my son!

--Rudyard Kipling

Invictus

Não conheço a poesia de William Ernest Henley. Somente os dois últimos versos deste poema, citados por Liz Greene em um de seus livros. Segundo ela, todo Escorpiniano deveria dizer a si mesmo essas palavras. Outro dia revi estas linhas e resolvi utilizar as facilidades da Internet para conhecer o poema inteiro. Trata-se de um poema famoso e bastante citado, como eu já imaginava.

Henley, poeta inglês nascido em 1849, teve uma vida difícil. Tuberculoso desde os 12 anos, teve a perna esquerda amputada aos 16, por causa da doença. Trabalhou para sustentar a mãe e os irmãos após a morte de seu pai e perdeu sua única filha, de 6 anos, vítima de meningite. O poema foi escrito no hospital.

Invictus


Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.


Da noite que me cobre,
Negra como um poço de alto abaixo,
Agradeço quaisquer deuses que existam
Pela minha alma inconquistável.

Na garra cruel da circunstância
Eu não recuei nem gritei.
Sob os golpes do acaso
Minha cabeça está sangrenta, mas erecta.

Além deste lugar de fúria e lágrimas
Só o eminente horror matizado,
E contudo a ameaça dos anos
Encontra e encontrar-me-á, sem temor.

Não importa a estreiteza do portão, ¹
Quão cheio de castigos o pergaminho, ²
Sou o dono do meu destino:
Sou o capitão da minha alma. ³

(Trad. de Luís Eusébio)

E, como a tradução que o acompanhava foi feita em verso livre, procurei por outra versão. Encontrei esta aqui:

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

Copyright © André C S Masini, 2000
Todos os direitos reservados. Tradução publicada originalmente
no livro "Pequena Coletânea de Poesias de Língua Inglesa.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Meus pés

Esta semana bati a sola do pé em algum lugar e fiquei mancando por dois dias. Se tivesse sido na perna ou no braço, nem lembraria, mas sendo no pé, doía a cada passo. O desconforto dos pés é desconforto do corpo inteiro.

Lembro-me das minhas botas ortopédicas. Eram pesadas, quentes e desconfortáveis e, por causa do bico torto para virar meus pés para fora, tornavam-me alvo de deboche dos colegas que não perdiam a oportunidade de dizer que eu tinha calçado os pés trocados. Bem, eles se divertiam, eu não. Na volta da escola, sob o sol do meio-dia, meus pés transpiravam e começavam a queimar dentro delas e, para me distrair até o fim do caminho, ficava imaginando que, se eu fosse a Jeannie ou a Feiticeira, piscaria e estaria em casa, ou se fosse o capitão Kirk, pediria que o Scott me teleportasse direto pro meu quarto.

Ao chegar em casa, literalmente as arrancava e as jogava longe e passava o resto do dia descalça, não por rebeldia, mas porque não tinha outros sapatos. Aprendi a andar descalça sobre pedrinhas, capim e asfalto quente. Todo dia ia comprar sorvete na padaria Roma e saltitava pra não queimar os pés até encontrar a primeira sombra.

Por volta dos onze ou doze anos, declarei minha independência: quero sapatos! Foi logo depois disso que surgiram as Melissas e me apaixonei por aquela sandália de plástico transparente e macio - parecia que não estava usando sapato nenhum! E, porque se usava com meias também, eram sapato pra inverno e verão. Não tirava mais dos pés!

Um problema que acabou não sendo corrigido foi o pé chato - a ausência do arco do pé. Como me sentia responsável por não terminar o tratamento, tentava compensar jogando o peso do corpo para fora, para não desmontar o arco ao caminhar. Fiz isso até os 31 anos, quando comentei sobre o fato com o professor de Técnica de Alexander e ele me sugeriu que eu não o fizesse. Melhor seria comprar uma palmilha ortopédica e pisar sem nenhum músculo tensionado, disse ele.

Experimentei caminhar sem prender o pé. Uau!!! Que alívio! Meu corpo ganhou novo alinhamento: a coluna se encaixou sozinha, os ombros relaxaram e o pescoço ficou solto. A postura ficou bonita e a respiração começou a fluir com facilidade. Até aquela dorzinha da lombar desapareceu. Pensar que passei a vida inteira andando dura por causa de um arco que deveria estar ali mas não estava! Mas como a gente não perde um hábito da noite para o dia, preciso manter minha atenção aos meus movimentos na hora de caminhar e me lembrar constantemente de soltar os pés e o calcanhar. Se estou sob tensão, a tendência é voltar ao movimento mais antigo, mas pelo menos agora sei que eu POSSO caminhar com mais leveza!

Pois é, uma boa base é o começo de tudo!



Esta foto dos meus pés foi tirada pelo Dessórdi no sarau do Clave & Canella , em 2005, no Salão Mourisco.



terça-feira, 8 de abril de 2008

Envelhecer...


Envelhecer não me assusta. Realmente não. O que me incomoda é o acúmulo dos anos não vividos, das oportunidades perdidas, das escolhas errôneas, das expectativas frustradas....

...

Mas como incomodada ficava era minha avó, vou tocando bola pra frente e nanossomas de pró-retinol no rosto!





- Qual é o curso, capitão?

- Para frente, Sr. Sulu. Sempre em frente!







sábado, 5 de abril de 2008

Canção da minha infância






Girando, girando,
Não paro de girar
Trabalho cantando
Na roda de fiar

A velha fiandeira trabalha sossegada
A noite inteira na roda encantada

Girando, girando,
Não paro de girar,
Trabalho cantando
Na roda de fiar...

Lailarilailari...